Dependência Química

Muitas pessoas confundem a dependência com o uso de uma droga, outras pessoas acreditam que dependência a uma droga é “física” ou “psíquica”, e que muitas causam uma ou outra dependência.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), dependência química é um conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem após o uso repetido de determinada substância, sendo caracterizada segundo o Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID10), pela sigla F19.

A dependência é uma doença grave pois modifica o modo que o dependente percebe o mundo, as pessoas e a sua relação com a droga. Além de perder o controle sobre o uso, deixando de ser apenas um usuário, o dependente químico também sofre com as consequências da droga no seu corpo. Nem todo usuário é dependente, mas todo usuário corre o risco de se tornar dependente.

Pode ser dividida de 3 formas:

• Uso: Como sendo a autoadministração de qualquer quantidade de substância psicoativa; segundo o CID10: Causa apenas dano físico ou mental prejudiciais para o usuário;

• Abuso: Pode ser entendido como um padrão de uso que aumenta o risco de consequências. Já o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM V), aponta que engloba também consequências sociais;

• Dependência: A perda do controle do uso da droga. O dependente não consegue interromper, ou uma vez que começa a usar, não consegue controlar as quantidades de droga que usa ocorrendo uma a persistência do uso da droga apesar das suas consequências negativas. Além da substituição progressiva de atividades importantes, como o lazer ou trabalho pelo uso da droga e a presença de fissura, que seria uma vontade muito grande, quase incontrolável de usar a droga;

Existem 3 tipos de drogas que podem afetar significativamente os usuários:

 Drogas Depressoras: Os agentes depressores do sistema nervoso central (SNC) diminuem a atividade do sistema, lenteando seu funcionamento. Causando sonolência, diminuição da concentração, reflexo, etc. Entre elas: Álcool, opioides e benzodiazepínicos.

 Drogas Estimulantes: As substâncias estimulantes do sistema nervoso central (SNC) aceleram a atividade deste, causando aceleração da atividade psicomotora. Elas aumentam o estado de alerta e poder de concentração. Entre elas: Anfetaminas, tabaco, cocaína, crack, cafeína e metanfetamina.

 Drogas Perturbadoras: As substâncias perturbadoras do sistema nervoso central (SNC) provocam perturbação da atividade cerebral, o que gera quadros alucinatórios, geralmente de natureza visual. Elas mimetizam estados psicóticos (delírios, alucinações, perda da noção da realidade) nos indivíduos que as utilizam. Entre elas: Maconha, LSD, Êxtase, Cogumelos, Ayahuasca e anticolinérgicos.

Causas:

A dependência química é uma doença crônica e multifatorial, isso significa que diversos fatores que contribuem para o seu desenvolvimento. Entre eles podemos ver a quantidade, o tipo de droga, o acesso a ela, frequência de uso da substância, a exposição precoce e/ou repetida, a condição de saúde do indivíduo, fatores genéticos, psicossociais e ambientais.

Muitos estudos buscam identificar características que predispõe um indivíduo a um maior risco de desenvolver abuso ou dependência. Assim, entre grandes cientistas, destaco o americano neurocientista e pesquisador sobre drogas Carl Hart, no qual ele aponta que escutava que as drogas eram o problema, principalmente nas comunidades, porém sempre surgia o questionamento, como que a droga seria o problema se os problemas já existiam antes?

Segundo Carl Hart, os indivíduos muitas vezes escolhem o uso mais intenso da droga, pois eles não têm alternativas atraentes para poder escolher. Segundo ele, “porque as pessoas ficam viciadas?” Já que apenas entre 10 e 20% das pessoas que usam drogas se tornam viciadas. E se esse é o caso, a sociedade precisa entender que apenas uma pequena porcentagem vem a se tornar viciadas o problema em si não pode ser a droga se a maioria que usa a droga não se torna viciadas e não tem outros problemas.

Podemos potencializar nossas experiências e nossas funções ao usarmos cafeína quando acordamos, para nos ajudar a ficar mais alertas durante o resto do dia, ou seja, esse é o efeito que a droga causa. Assim como há outras pessoas que usam o álcool para relaxar e melhorar sua interação social em festas. Então é por isso que as pessoas usam drogas. Agora se nos perguntássemos porque uma pessoa usa Crack ou qualquer forma de cocaína por exemplo, é uma droga que irá deixa-lo mais alerta e que pode ajudá-lo em interações sociais. Então essa poderia ser justificativa pela qual as pessoas usam crack e outras pessoas podem preferir/escolher usar drogas como heroína para relaxar, diminuir a ansiedade, aliviar alguma dor.

Ainda com o mesmo cientista, nós temos que entender porque cada pessoa se torna viciada e isso vai muito do que vemos com os pontos de risco, pois estão usando a droga para tratar dessa doença. Assim como as pessoas podem ser viciadas porque não aprenderam seu comportamento em nenhum âmbito, seja em relação ao comportamento no uso de drogas, seja em relação a um comportamento sexual, seja dirigindo um automóvel irresponsavelmente. Por isso, as pessoas se tornam viciadas por uma série de motivos.

O que é a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC)? Por que essa abordagem tem se mostrado tão importante no tratamento das dependências químicas?

A Terapia Cognitivo Comportamental entende a forma como o ser humano interpreta os acontecimentos como aquilo que nos afeta, e não os acontecimentos em si, ou seja: é a forma como cada pessoa vê, pensa e sente com relação à uma situação que causa desconforto, dor, incômodo, tristeza ou qualquer outra sensação negativa.

Ela vem se mostrando tamanha importância devido ser bastante específica e clara pois age incisivamente no problema principal do paciente, identificando seus padrões de comportamento, pensamentos, crenças e hábitos que estão na origem dos problemas.

Como saber quando o uso de álcool se tornou um problema?

Para isso, precisamos ver quais sintomas que o indivíduo está tendo e seus fatores de risco:

Entre os sintomas mais comuns, podemos ver o desejo incontrolável de usar a substância (Fissura); a perda de controle (não conseguir parar depois de ter começado); o aumento da tolerância (intensa necessidade de doses maiores para atingir o mesmo efeito com doses anteriormente inferiores ou efeito cada vez menor com uma mesma dose da substância); Sintomas de abstinência; Sudorese; Tremores.

Os Fatores de risco não são necessariamente iguais a todos os indivíduos e podem variar conforme a personalidade, a fase do desenvolvimento e o ambiente em que estão inseridos. Entre eles, podemos ver 3 tipos:

• Influencias Psicológicas: Histórico familiar; Trauma; Abuso físico e sexual; Perdas pessoais; Sentimentos de baixa autoestima ou desesperança; Questões de orientação sexual; Transtorno mental; pouco repertório para resolução de problemas; Crenças disfuncionais; Comportamentos disfuncionais.

• Influencias Biológicas: Hereditariedade; Sistema Endócrino; Metabolismo; Doenças físicas; Dores crônicas; Transtornos Psicóticos; Transtorno Afetivo Bipolar.

• Influências Sociais: Estresse social; Desemprego; Crenças culturais; Família e grupo (amigos); Problemas legais; Profissão, e agora como um fator novo, pandemia.

Em relação ao álcool, estima-se que os fatores genéticos expliquem cerca de 50% das vulnerabilidades que levam o indivíduo a fazer uso pesado de álcool – principalmente genes que estariam envolvidos no metabolismo do álcool e/ou na sensibilidade aos efeitos dessa substância, sendo que filhos de alcoolistas possuem quatro vezes mais riscos de desenvolverem alcoolismo, mesmo se forem criados por indivíduos não-alcoolistas.

Além disso, fatores individuais e aspectos alcóolicos fazem com que mulheres, jovens e idosos sejam mais vulneráveis aos efeitos das mesmas, o que o colocam em maior risco de desenvolvimento de problemas.

Existem variados questionários de autopreenchimento (tais como ASSIST, CAGE, AUDIT) e testes sanguíneos também têm sido empregados, em contexto clínico, com tais fins, mas não podem ser considerados como substitutos de uma cuidadosa entrevista clínica.

Existem também alguns exames (marcadores biológicos) que são indicadores fisiológicos da exposição ou ingestão de drogas, e podem auxiliar no diagnóstico e no tratamento. No caso do álcool, por exemplo, é possível citar a alanina aminotransferase (ALT), volume corpuscular médio (VCM) e o gama-glutamiltransferase (GGT). É importante também realizar um exame físico e atentar-se a sinais e sintomas que podem auxiliar na identificação do problema

Como o familiar pode ajudar quem esteja precisando?

Muitas pessoas acreditam que são capazes de sempre controlar o uso de uma droga. No entanto esta é uma ideia falsa. A cada exposição à droga o usuário está correndo o risco de perder o controle e de se tornar dependente. A cada vez que ele usa a droga é como ele subisse em uma corda bamba. Às vezes ele consegue chegar do outro lado, mas ele sempre está correndo o risco de cair na dependência.

A dependência química geralmente representa um impacto profundo em diversos aspectos da vida do indivíduo e também daqueles que estão ao seu redor. Dada a sua complexidade, é interessante que os programas de tratamento sejam multidisciplinares para atender às diversas necessidades do paciente (aspectos sociais, psicológicos, profissionais e até jurídicas, conforme demonstrado em diversos estudos), sendo mais eficaz na alteração dos padrões de comportamentos que o levam ao uso da substância, assim como seus processos cognitivos e funcionamento social.

Para manter-se livre das drogas, o indivíduo terá que realizar uma série de mudanças em seu estilo de vida e sendo possível a ajuda de familiares, isso se tornará muito mais fácil. Por exemplo, evitar locais e situações que sejam associados ao uso, (re)aprender “fontes de prazer” que não as que estejam relacionadas ao consumo – geralmente, pessoas com problemas com drogas afastam-se todas as formas de lazer, hobbies, relacionamentos, etc.

Desafios de tratamento e Perspectivas de reabilitação

Um tratamento eficaz é aquele que consegue auxiliar o indivíduo a retomar o funcionamento produtivo na família, no trabalho, na sociedade e no trabalho.

Não existe um modelo ideal e único de programa, e sim diferentes possibilidades de abordar estas questões. O que se percebe é que terão mais sucesso as ações que contemplam abordagens multidisciplinares, ou seja, trabalho e estudo de profissionais de diversas áreas e especialidades.

Participar de sessões de psicoterapia (principalmente com abordagens comportamentais) podem oferecer estratégias para que o indivíduo consiga lidar com situações de alto risco ou forte desejo de consumir a substancia, além de maneiras de evitar e prevenir recaídas.

AÇÃO E EFEITO DAS DIFERENTES DROGAS

A dependência química acontece porque determinadas substâncias acionam o sistema de recompensa ou sistema de gratificação (uma área encarregada de receber estímulos de prazer e transmitir essa sensação para o corpo todo) do cérebro que vai, com o tempo, se interessando somente pela sensação de prazer provocada pela droga. Pois ela no sistema nervoso central (SNC), age sobre esse sistema aumentando a atividade da dopamina. Sendo assim, as drogas irão interferir por uma espécie de curto circuito, elas provocam uma ilusão química de prazer que induz a pessoa a repetir seu uso compulsivamente. Com a repetição do consumo, perdem o significado todas as fontes naturais de prazer e só interessa aquele imediato propiciado pela droga, mesmo que isso comprometa e ameace a vida do usuário.

Daí, muita gente se pergunta, se a droga dá prazer, qual é o problema? O problema é que ela não mexe apenas na área do prazer. Mexe também em outras áreas e o cérebro fica alterado. Diante de uma fonte artificial de prazer, ele reage de modo impróprio. Se existe a possibilidade de prazer imediato, por que investir em outro que demande maior esforço e empenho?

Para quem está de fora fica difícil entender por que o usuário de cocaína ou de crack, com a saúde deteriorada, não abandona a droga. Tal comportamento reflete uma disfunção do cérebro. A atenção do dependente se volta para o prazer imediato propiciado pelo uso da droga, fazendo com que percam significado todas as outras fontes de prazer. As drogas sempre causam alterações no cérebro e com isso uma mudança das funções psicológicas, como a atenção, a memória, a percepção sensorial ou a forma de se relacionar com o mundo.

É importante distinguir, na droga, o efeito imediato do efeito cumulativo. No geral, sob a ação da maconha, a pessoa ansiosa relaxa um pouco, mas esse é um efeito de curto prazo. O álcool também relaxa num primeiro momento. No entanto, as evidências demonstram que nas pessoas ansiosas seu uso crônico aumenta os níveis de ansiedade, porque o cérebro reage tentando manter o sistema em equilíbrio. E nesse processo de homeostase cerebral, ocorre o efeito rebote da droga na pessoa.

A cocaína age de forma diferente. O efeito rebote está na impossibilidade de sentir prazer sem a droga. Passada a excitação que ela provoca, a pessoa não volta ao normal. Fica deprimida, desanimada, tudo perde a graça. Como só sente prazer sob a ação da droga, torna-se um usuário crônico. Às vezes, tenta suspender o uso e reassumir as atividades normais, mas nada lhe dá prazer. Parece que, por vingança divina, o cérebro perdeu a capacidade de experimentar outras fontes que não a desse prazer artificial que a droga proporciona.

Se você se identificou com alguma questão supracitada acima, procure ajuda. O primeiro grande passo para a cura é reconhecer a necessidade de um tratamento. Um psicólogo pode ajudá-lo a compreender os gatilhos que levam à determinados pensamentos, emoções, comportamentos e assim a vencer da melhor forma possível e humanizada.

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