
Dependência tecnológica é caracterizada pela falta de controle de um indivíduo sobre seu uso de internet, computador, jogos e telefones. Isso se dá devido estar associado junto a quadros de ansiedade, depressão, timidez, dentre outros. Entretanto, vem-se tornando cada vez mais intenso devido a necessidade de manter-se sempre bem informado os indivíduos em todas as esferas sociais, como trabalho, vida pessoal, cultural, etc.
Os recursos tecnológicos hoje são cada vez importantes em nossas vidas. Os aparelhos eletrônicos, tais como: computadores, celulares, tablets etc. fazem parte da rotina dos indivíduos em vários ambientes de forma constante, sendo até mesmo presentes entre as crianças. Assim, surge um novo meio de exploração dos equipamentos eletrônicos e seu uso partindo de diferentes meios de utilização (Francisco & Silva, 2015).
Para os mesmos autores, isso é bastante atrativo, tendo em vista que estes recursos podem ser utilizados como brinquedo para as crianças. Tal fato se contrasta com o passado, tempo em que as mesmas brincavam nas ruas e participavam de atividades com o corpo e em integração com o ambiente. Hoje, com a era digital, os hábitos antigos vão se perdendo para adentrar novos costumes, os quais requerem menos esforços. Os brinquedos de agora são cada vez menos artesanais, passando a serem robotizados. Além disso, com o desenvolvimento das tecnologias, os recursos tecnológicos estão cada vez presentes nos mais diversos momentos, facilitando, assim, que esse sujeito entre em contato facilmente.
Dessa forma, na visão de Jorente e Santos (2014), a sociedade está se inovando e buscando novas estratégias de interesse subjetivo, social e econômico. Vê-se o crescente uso da tecnologia, assim como da internet, pois o que antes era feito dentro do trabalho ou de casa, com as novas tecnologias, passou a acontecer a todo momento, em todos os lugares, existindo uma hiperconectividade.
Corroborando com esta ideia, Silva, Silva e Moraes (2014) apontam que as esferas sociais da vida de um indivíduo, as redes sociais, ganharam maior relevância nos últimos tempos, podendo ser colocadas como as que movimentam a vida das pessoas. Em segundos, milhares de pessoas revelam muito de si através das redes sociais, dado que algumas “já levantam conectadas”, através de seus celulares, tablets e computadores, construindo, por conseguinte, uma rede de informações sobre si mesma e sobre os outros.
Dessa maneira, o sujeito irá procurar se expressar na sociedade, pois o homem moderno tomou seu próprio tempo para se construir, modelar e metamorfosear, ou seja, construir a sua identidade. Nesta perspectiva, o sujeito, por ser uma construção social e sócio histórica, irá buscar, constantemente, a sua própria consciência, significando que o mundo está em fluxos e em uma busca constante por sua identificação coletiva ou individual, sendo esta constituída ou atribuída, tornando-se fonte básica de significado social. (Malvezzi, 2017).
Com isso, Castells (2013) constatou para o fato de que o significado e a dinâmica, desde os ambientes de lazer dos indivíduos, são alterados constantemente. Sendo devido esse tipo de estrutura social, que é aberta e está baseado em redes, permitindo que os usuários tenham maiores interações com outras pessoas, pelo intermédio de acessórios tecnológicos, construindo outros tipos de conhecimentos compartilhados. Essa lógica de redes gera uma determinação social em nível mais alto que a dos interesses sociais específicos expressos por meio das redes. A ausência da rede ou a presença dela pode ser fonte crucial de transformação das relações sociais.
Dessa forma, Bauman (2004) apontou que também existem nos próprios lares relações de copresença, que seriam as pessoas de uma mesma família morando em uma mesma casa, mas vivendo “separadamente lado a lado”, o que impossibilita maiores trocas de intimidades e de experiências. Ou seja, as pessoas deixam de se relacionar e passam então a se conectar, baseando-se no binômio conectar/desconectar. Nessa perspectiva, vê-se que os indivíduos estão cada vez fragilizados em seus laços sociais, já que se misturam e se condensam em momentos volúveis e frágeis. Em um mundo em constante dinâmica, velocidade e fluidez.
Assim, para o mesmo autor, a sociedade vive em tempos líquidos, no qual nada foi feito para durar. O contato via rede social está tomando o lugar entre as pessoas, deixando uma ausência no comprometimento e fazendo existir um mundo de incertezas com poucos vínculos, sendo estes cada vez mais substituídos por novos aparelhos eletrônicos como forma de disfarçar o medo da solidão. Como já dizia Debord (2003), as relações acabam buscando novos hábitos como forma de enfrentamento e novas técnicas, sentidos etc., pois, é a representação pela construção de uma sociedade produtora de espetáculos, baseada na imagem, ou seja, “o espetáculo é o capital em tal grau de acumulação que se torna imagem” (P. 25).
Para o mesmo autor, esse tipo de interação entre pessoas está mais dinâmico, visto que se encontra presente na vida cotidiana, principalmente, devido à facilidade de conexão e por estar conectado à Internet graças ao advento do smartphone. As mídias sociais interferem também nas relações, pois existe uma busca desenfreada em como podemos ser mais interessantes para o outro, gerando novos comportamentos sociais, na medida em que se personifica, reflete-se em busca do reconhecimento do outro.
As fortes representações sociais geram e formam opiniões, mudando, muitas vezes, o comportamento humano como forma de buscar atribuir os mesmos valores e crenças do que é dito como “correto” pelo outro, modificando, assim, a forma de pensar e agir, sendo, em muitos momentos, provocadas em virtude dos discursos midiáticos (Oliveira, 2013).
Porém, mesmo com todo o aparato de aproximação entre as pessoas em diferentes lugares e com a facilitação de interação, trouxe também a facilidade de intolerância por detrás das telas, por ser um lugar sem limites de espaço, sendo disposta a difamar constranger outros indivíduos, surgindo, dessa forma, o Cyberbullying (Silva, Silva & Moraes, 2014).
Seguindo esse contexto, é visto que, atualmente, o uso da tecnologia vem abrindo um espaço de apreciação e desconforto entre seus usuários. Fortim e Araújo (2013), explicitam os possíveis efeitos colaterais de estar conectado excessivamente ao mundo virtual. Nesta circunstância, a internet dá ao usuário uma sensação de controle sobre as relações com os outros e cria um ambiente de estabilidade, ao passo que na vida off-line o mesmo não ocorre, ocorrendo momentos de “um desejo irresistível de usar a rede, com incapacidade de controlar seu uso; irritação quando não conectados e euforia assim que conseguem acesso” (p. 294).
Dessa forma, esse tipo de controle, anteriormente citado, para Germano e Nogueira (2017), é uma maneira de buscar validar ou não as ações dos indivíduos, sendo essa necessidade extrema de estar em constante interação com os demais uma forma de neonarciso, tendo em vista que o fato de postar fotos na intenção de tornar o que foi publicado como algo valioso. Assim, receber “likes” em virtude da quantidade e não pela qualidade, demonstra o desejo e a necessidade de ter a vida e o olhar do outro como forma de apreciação e inclusão social. Com isso, é demonstrado que a sociedade está na fase do supercompartilhamento, na qual “Bilhões de histórias de vida são acessadas e acompanhadas diariamente por plataformas digitais como YouTube, Facebook, Instagram, entre outros” (p.57).
Beck (2013) demonstra que os comportamentos humanos são alterados de acordo com determinados tipos de percepções em diferentes tipos de contextos. Assim, de acordo com a situação em que se passar, são disparados diversos tipos de pensamentos, sendo em decorrência disso, a afetação nos mais diversos tipos de emoções e sentimentos humanos, os quais são desenvolvidas de maneira única, são eles: raiva, ansiedade, frustração, inveja, orgulho, alegria, nojo, curiosidade etc. Com isso, uma determinada interpretação pode levar a diversos pensamentos de forma automática, gerando e modificando a forma de agir e assim, nas formas de lidar com determinada situação.
Assim, ser feliz na sociedade contemporânea não basta se não for útil e desejável a alguém, pois “não se trata tão só de atingir esse estado de ânimo tão desejado; é necessário, também e talvez sobretudo, que essa felicidade seja visível e que os outros possam verificá-la com o poder legitimador de seus olhares”. (Sibilia, 2014, p. 42). Com isso, vão existindo novas subjetividades produzidas pelo olhar do outro, o que vem reconstruindo o conceito de intimidade, pois o sujeito deixa de ser ele mesmo para ser apreciado mesmo por quem não o conhece.
Para Germano e Nogueira (2017), essa necessidade de aceitação gera traços emocionais e psicológicos profundos em cada um dos indivíduos. Um compartilhamento de algo produz o anseio daquilo que desejamos. Hoje, busca-se preencher algum vazio, satisfazendo de forma narcísica sua carência e necessidade de pertencimento ao trocar “likes” com outros usuários e, assim, quanto mais se aumenta o número, maior a satisfação emocional.
Com isso, Lipp e Tricoli (2014) apontam que essa volatilidade gerada na sociedade atual tem mudado de forma rápida e profunda, impactando os sujeitos como verdadeiros “disparadores” de angústia e “mal-estar”, além de ocorrerem mudanças de valores intersubjetivos.
Em decorrência disso, Antunes e Praun (2015, p.411) relatam haver diversos tipos de mudanças que “a nova divisão internacional do trabalho estabeleceu, concomitantemente trazem um novo mapa de acidentes e doenças profissionais”, causando, ainda, maiores explorações de trabalho dos indivíduos, sendo novos modos de extração do trabalho e da mais-valia, desrespeitando, muitas vezes, as esferas de lazer e da vida privada, os momentos familiares etc. Além disso, contribui também de forma significativa para a deterioração das condições de saúde mental e física, o que torna estas mudanças alvo de numerosos estudos e pesquisas por parte de grande número de estudiosos.
Nesse contexto, os autores, Fuentes, Malloy-Diniz, Camargo e Cosenza (2014) apontaram que, ao longo do tempo, de acordo com as vivências e aprendizados de cada indivíduo, as sinapses são constantemente alteradas. Pois, é quando um neurônio se conecta com o outro, provocando o amadurecendo a partir da aquisição de novas ideias, conceitos e a resolução de problemas, formando memórias até completar todo o amadurecimento do cérebro.
Porém, com o uso constante de aparelhos tecnológicos, o pensamento, o raciocínio lógico e a capacidade de reflexão ficam cada vez reduzidos, pois, com o restringimento da exposição a diferentes estímulos, fica difícil manter a atenção sustentada ou focada, gerando uma modificação na arquitetura sináptica, a curto, médio e longo prazo, diminuindo o potencial de ação do cérebro (Fuentes et. al., 2014).
Dessa forma, para os mesmos autores, isso afeta subdivisões na maneira de agir e de se comportamentar em relação à tomada de decisão (impulsividade cognitiva), à habilidade de inibir respostas prepotentes (impulsividade motora) e à capacidade de inibir informações irrelevantes, o que provoca o surgimento de diversos novos transtornos, como: a oniomania (compras compulsivas), a dependência de sexo, a automutilação recorrente, o transtorno de compulsão alimentar periódica e a dependência de tecnologia.
Corroborando com essa ideia, a 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, DSM-5 (Apa, 2014), apontou o surgimento da categoria de transtorno do jogo pela internet. Sendo assim, o “uso persistente e recorrente da internet para envolver-se em jogos, frequentemente com outros jogadores, levando a prejuízo clinicamente significativo” (Apa, 2014, p. 795).
De acordo com Ferreira (2014), passam a ser muito comuns, devido ao uso em excesso de aparelhos eletrônicos e nível de brilho alto, prejuízos visuais, como: Síndrome da Visão do Computador (CVS) e o agravamento de miopia e hipermetropia.
Além disso, são apontados outros tipos de novos problemas psicológicos que afetam a qualidade de vida do indivíduo, causando comorbidades, como: ansiedade social, depressão, queda de rendimento por dormir menos e transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (Spritzer, Restano, Breda, & Picon, 2016). Ocasiona também dores no corpo, principalmente, na região cervical (Bragatto, 2015) e afeta a área cerebral, causando a cefaleia (Xavier, Pitangui, Silva, Oliveira, Beltrão, & Araújo, 2014).
Percebe-se que o uso de tecnologias e das redes sociais estão cada vez mais inseridas na vida dos indivíduos. Existindo diferentes níveis de interações que, muitas vezes, seriam artificiais e programadas. Dessa forma, constantemente a internet consegue se inserir e se popularizar, sendo reconhecida por sua importância e necessidade, já que se vive em uma época em que estar fora da tecnologia é estar distante do mundo.
À medida em que a tecnologia cresce ao longo dos anos, observou-se que seu uso deixa de ser luxuoso, tornando-se algo necessário, tendo em vista que as pessoas no mundo moderno e globalizado procuram facilidades e agilidade nas tarefas do dia a dia. Portanto, a tecnologia deixou de ser um simples diferencial no ramo trabalhista para se transformar em obrigatoriedade. Assim, estar sem o uso básico de um computador ou internet impossibilita até mesmo no ramo empregatício dos indivíduos. Contudo, essa necessidade do uso de aparelhos tecnológicos pode propiciar à dependência e problemas de saúde.
Dessa forma, vive-se em um momento onde não se pode fugir das tecnologias. Nos dias atuais, a informação pode ser obtida em um clique. Assim, além de a comunicação estar sempre presente no mundo moderno, é difícil existir algo que ainda não tenha sido visto/falado. Todo esse aparato tecnológico busca convocar as pessoas a participarem da vida alheia, devendo estas estarem dentro de contextos sociais. Muitas vezes, tudo aquilo que se vê nas redes passa a ser uma moldura daquilo que verdadeiramente é, construindo a identidade a partir do olhar do outro e das “boas” ações que se faz pelo mundo, mesmo que não seja o que a própria pessoa goste, pois entende-se que se deve gostar do que os demais preferem para se inserir na sociedade atual.
A sociedade reflete muito de seus anseios de acordo com os caminhos que a tecnologia perpassa. Existe então diversos avanços tecnológicos que intensificaram a forma de lidar/estar em sociedade. Com isso, pode ser visto que a internet tem diversos pontos positivos para o desenvolvimento humano, desde que use seu conteúdo de forma inteligente e no tempo certo, pois, também pode ser feita como forma de sossego. Porém, seus impactos tecnológicos interferem nas relações interpessoais (sociais e individuais) e na saúde do indivíduo.
As tecnologias facilitam também na comunicação de forma rápida e interativa entre bilhões de pessoas, servindo como meio de resistência, por exemplo, a partir de manifestações políticas, representatividade sociais e interações entre indivíduos de diversas partes do mundo de acordo com seus gostos individuais, como em jogos, causas LGBTs, series, filmes etc., dando maior visibilidade e facilitando a derrubada de antigos tabus.